É Natal?
Uma mantinha de sofá, igualzinha a umas que vi nas promoções natalícias da Área. Bonitinha e quente. Os pratinhos para as refeições da Kikas. Gostei que se tivessem lembrado dela. Afinal, a Kikas é a minha filhota de quatro patas. Quase o único amor que tenho. Isto é, que alguém tem por mim. Já não sou filha, nunca fui mãe. Vagabunda dos caminhos armadilhados que nos põem a percorrer e onde aguentamos o que surge. Injusta, se não referir o contributo para o aspirador que tanta falta me está a fazer. Oferecido com algum amor, creio, mas não aquele gritado e potente que une filhos e mães. Sonhei tê-lo assim. E sinto-o. A retribuição é a possível de alguém que já entregou esse, mais forte, num compromisso natural e indestrutível. Ridícula, neste cantinho do sofá, chorando o meu desgosto. O meu lugar fora do contexto. Comparando a dedicada atenção posta na escolha do que interessa para quem interessa. Na dádiva do que tem que ser, no papel das solteironas do séc XIX, agregada por inerência de indescartáveis laços de sangue. E zurdo-me por causa destas analogias, que não pretendo e que confundem o amor com o potlatch das sociedades ditas primitivas. Mas o fermento esgueirava-se nelas como nos natais dos dias de hoje.
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